Capítulo 21
1
O gazofilácio era o nome dado a uma seção do átrio das mulheres onde havia treze caixas para coleta de ofertas, com o formato de trombeta. Cada uma tinha uma inscrição que indicava em qual uso específico sua arrecadação seria investida. Alguns ricos contribuíam de forma generosa.
2 Lucas usa uma rara palavra grega penichra para salientar a condição de pobreza absoluta daquela mulher vestida de luto, conforme a tradição judaica, o que indicava seu estado de viuvez. Ela ofertou duas lepta. O lepton (em grego) era uma moedinha de cobre (a única moeda hebraica mencionada no NT, chamada perutah) e tinha um valor monetário irrisório (equivalente a um oitavo de dólar atual e suficiente apenas para comprar dois pardais na época). Por isso a lei recomendava jamais colocar um lepton na caixa de caridade. Entretanto, conhecendo a condição de vida daquela senhora e seu coração, Jesus declara não apenas que ela teria dado mais do que cada um dos ofertantes; mas, sim, literalmente, que ela deu mais do que todos aqueles contribuintes somados. Jesus calculou o valor espiritual da oferta pelo que sobrou a cada um e a pobre viúva ofereceu o maior sacrifício.
3
Esse segundo templo (515 a.C.) havia sido completamente renovado por Herodes a partir de 19 a.C. e foi mais uma estratégia política para reconciliar o povo judeu com seu rei que era idumeu, do que um ato de louvor e adoração ao Senhor, mesmo considerando que Herodes mandou treinar cerca de mil sacerdotes como pedreiros e construtores, para edificarem o santuário com todo o zelo religioso. A estrutura principal foi terminada no ano 9 a.C., mas toda a reconstrução foi concluída somente no ano 64 d.C., pouco tempo antes da invasão romana. O templo ocupava uma área aproximada de 400 por 500 metros, sendo todo revestido em ouro e prata. As pedras usadas para erigir a construção eram enormes blocos com cerca de 60 cm de altura por 5 metros de comprimento. Algumas dessas grandes pedras ainda podem ser vistas no chamado "muro das lamentações" em Jerusalém. Contudo, esse muro fazia parte da infra-estrutura, e não propriamente do templo. Josefo faz a seguinte descrição em relação às enormes pedras que adornavam o templo: "Tudo o que não era revestido de ouro, era do branco mais puro". Herodes ofereceu ao templo uma videira de ouro como obra de arte. Cada um de seus cachos era da altura de um homem e cada uva do tamanho de uma melancia de ouro maciço.
4 A destruição de Jerusalém e, especialmente do templo, seria tão arrasadora que prefiguraria a destruição final do sistema mundial no Dia do Juízo. Os exércitos romanos cercaram Jerusalém e no ano 70 d.C. invadiram a cidade santa, matando quase toda a população. Destruíram e saquearam completamente o templo. Invadiram o santo dos santos e levaram para Roma o candelabro de ouro, a mesa dos pães da proposição e todos os objetos sagrados dos judeus, como um sinal de que haviam vencido o Deus dos judeus. Além de não deixarem uma pedra em cima da outra (Mt 24.2), e rasparem até o ouro que havia nas junções dos blocos de pedra, salgaram toda a cidade para que nem a grama voltasse a crescer naquele lugar.
5 Marcos esclarece que essa pergunta foi feita por quatro discípulos: Pedro, Tiago, João e André (Mc 13.3). Mateus apresenta a questão de forma mais abrangente, incluindo um pedido de mais detalhes sobre o sinal do retorno de Jesus e conseqüentemente do final dos tempos (Mt 24.3). Parte do discurso de Jesus refere-se ao final dos tempos e parte, especificamente, à destruição de Jerusalém. Em Lucas a distinção entre os dois acontecimentos, considerando que a queda de Jerusalém faz parte das profecias em relação ao fim do mundo, é mais clara que nos demais evangelhos. Jesus anunciou pessoalmente o fim das eras, mas adiantou que esse terrível evento não se daria logo. Jesus expressa sua certeza na vitória final dos crentes fiéis, embora tivessem que passar por períodos muito difíceis à frente. E termina com um desafio animador aos seus seguidores no sentido de permanecerem vigilantes e não se deixarem envolver pelas preocupações deste mundo. A linguagem usada pelo Senhor relembra passagens do AT (2Cr 15.6; Is 8.21-22; 13.13; Jr 34.17) e enfatiza que ele estava descrevendo uma visitação divina.
6
Jesus adverte seus seguidores e discípulos para não se deixarem enganar pelos acontecimentos tumultuosos pelos quais passaria a terra. Em épocas conturbadas apareceriam falsos cristos, ou seja, falsos messias (salvadores), afirmando ser como Cristo (Eu Sou) e predizendo a data do final dos tempos. Todos os acontecimentos citados nos versos de 8 a 18 caracterizam a era presente como um todo, além de serem sinais do final dos tempos (Mt 24.3,6; Mc 13.25).
7 As sinagogas serviam não apenas para o culto e o estudo religioso, mas também para a administração comunitária e para aprisionar pessoas acusadas que aguardavam julgamento.
8
O Senhor concederia aos seus discípulos a oratória e um saber acima do normal para testemunhar diante das autoridades (At 6.9,10). O Espírito de Cristo (Mc 13.11) dará a mensagem e a coragem para proclamá-la (At 4.8-13; 6.3,10; 7.1).
9 É preciso muito cuidado para não interpretar literalmente metáforas e outras figuras de linguagem muito usadas na Bíblia. Jesus não estava garantindo a integridade física dos seus discípulos, uma vez que ele mesmo avisou sobre a morte de alguns (v.16). Mas, assegurou aos fiéis que, mesmo a morte, não lhes roubaria todas as honras e glórias para eles reservadas no céu. O Senhor sempre está no controle da história e especialmente da vida de cada crente. O resultado final será sem dúvida o triunfo eterno. O crente jamais sofrerá perda total e real, pois seu espírito receberá um novo e perfeito corpo na ressurreição (Fp 3.21).
10
A palavra grega para "alma" é psyche, de onde vêm as palavras "psiquiatria, psicologia". A psique é a sede das emoções, sentimentos, vontades, paixões, razão e entendimento, e por isso, a alma é diferenciada do corpo físico. A "psique" é o nosso "Eu interior", a essência da vida.Várias vezes essa palavra no grego denota a própria "pessoa" (At 2.41,43; 1Pe 3.20). A "psique" não pode ser dissolvida com a morte. Corpo e espírito serão separados, mas espírito e alma podem apenas ser distinguidos, jamais divorciados. A Bíblia nos ensina que o ser humano é constituído de três partes: O corpo, nossa parte física; a alma, constituída pelas emoções e intelecto; e o espírito, que é nossa verdadeira e eterna natureza. Ao recebermos Jesus como Salvador pessoal, nosso espírito – que estava morto por causa do pecado – é prontamente revivificado e, portanto, devemos passar a alimentá-lo com a Palavra e cuidar para que, tendo um desenvolvimento saudável, possa cada vez mais viver em harmonia com o Espírito de Deus. Esse é o mais amplo aspecto do Reino de Deus, o qual nosso Senhor deseja que se expanda dentro de nós e administre as mais profundas dimensões do nosso caráter e personalidade. A disposição e a coragem para enfrentar lutas interiores, perseguições e provações em geral são confirmações de que somos verdadeiramente salvos e, portanto, podemos ter essa certeza e a paz decorrente (Mt 10.28).
11 Quando um exército cercava uma cidade o mais indicado era buscar refúgio dentro dos muros. Entretanto Jesus previne seus discípulos para que fujam do centro da cidade e busquem segurança nos montes. Os muros de Jerusalém agüentaram os fortes ataques dos exércitos romanos por cerca de três meses, quando então foram invadidos violentamente e todo o povo chacinado (Mt 24.16).
12 Os dias da vingança eram a maneira profética de se expressar no AT para advertir os judeus em relação à justiça punitiva de Deus, em conseqüência da incredulidade e da infidelidade dos líderes religiosos e do povo em relação ao Senhor (Is 63.4; Jr 5.29; Os 9.7).
13 Na verdade, Jerusalém já vinha sendo dominada por nações gentias (em grego: ethnõn), há vários séculos, e esta dominação ainda seria pior com a devastação dos romanos, as sucessivas guerras com os países árabes, as grandes guerras mundiais, hoje com a forte presença gentílica na cidade; haja vista que a principal mesquita mulçumana na Palestina está situada sobre as ruínas do templo no centro de Jerusalém, e no futuro com novas e poderosas invasões (Ap 11.2). Por outro lado, esse também é o "tempo da oportunidade" (em grego: kairos). Um longo tempo da graça de Deus para que todos os não judeus possam receber o Senhor e serem salvos (Mc 13.10; Lc 20.16; Rm 11.25). Contudo, o "tempo dos gentios" será encerrado logo depois de terem sido cumpridos os propósitos do Senhor para os próprios gentios.
14
Continuam, a partir daqui, as profecias iniciadas no v.11, depois do parêntese aberto pelos versos 12 a 24. Como afirma 17.20, o significado dos sinais do glorioso retorno do Senhor, ainda que portentosos e espantosos (v.11), passará sem a verdadeira compreensão por parte dos incrédulos. O próprio discípulo que for incauto ou infiel será apanhado como um pássaro por uma armadilha. Essa terminologia apocalíptica do AT e dos escritos judaicos é muito utilizada para descrever convulsões políticas, ou acerca do fim do mundo. Aqui devem ser considerados ainda os fenômenos cósmicos que ocorrerão (Is 13.10; 34.4; Ez 32.7).
15 Muitas das predições nesse discurso de Jesus têm a ver com a iminente destruição de Jerusalém que ocorreria em 70 d.C., mas consideram também que esse seria um dos grandes sinais quanto ao final dos tempos e o glorioso retorno de Jesus (Dn 7.13). Contudo, os discípulos do Senhor não devem ficar apavorados quando observarem esses sinais, mas erguer as cabeças, olhar para cima, de onde virá a nossa redenção, a salvação completa e eterna de nossas almas e a dádiva de um novo corpo glorificado (Rm 13.11; 1Jo 3.2).
16 Segundo descobriu-se nas análises dos rolos do monte Qunram a expressão "geração", significa "a duração de uma vida" e pretendia identificar "um tipo especial de pessoas", como no AT: os maus (Sl 12.7) e os bons (Sl 14.5). Isso quer dizer que aquelas pessoas que presenciarem os sinais dos grandes eventos são de uma geração que verá o cumprimento daquelas profecias específicas, por exemplo, como ocorreu com a geração à qual Jesus profetizou sobre a destruição de Jerusalém, aqueles que viram o cumprimento da profecia, faziam parte da "geração" que foi até o fim. Da mesma forma, aqueles que virem os grandes sinais que antecederão o glorioso retorno de Jesus, haverão de ficar firmes até o fim. Tal como "última hora" (1Jo 2.18), "hoje" (Hb 3.7,15) ou "agora" (2Co 6.2), "geração" significa também a fase final da história da Salvação. A geração dos "fins dos séculos" (1Co 10.11) que se estende da ressurreição de Jesus até a revelação pública do Reino (em grego: parousia) prestes a surgir, mas cujo tempo cronológico é indeterminado.
17 O cumprimento da Palavra do Senhor é mais certo e seguro que a permanência do mundo ou do próprio universo (Mt 5.18).
18 A volta gloriosa de Jesus abrangerá todas as nações e a raça humana em geral. A queda de Jerusalém foi um evento localizado e específico, aviso de Deus para o mundo, e parte dos sinais que apontam para o final dos tempos.
19
Os cristãos escaparão da destruição eterna por evidenciarem um viver próprio dos salvos: Corações livres de vícios carnais e ambições mundanas (v. 34; Hb 2.3; 2Pe 3.10,11). Mentes e corações em sintonia com as profecias e os sinais bíblicos (Mt 24.33; 1Ts 5.4). Vida com alegria espiritual, fruto da esperança em Cristo, sem desânimo ("exultai", v.28; Tt 2.13). Estado de oração constante (1Ts 5.17; 1Tm 2.8).
20
Jesus fez questão de passar sua última semana na terra ensinando no templo, desde o princípio do dia até o pôr-do-sol. Desde a entrada triunfal até a Páscoa (de domingo até quinta-feira da Paixão). Após seus longos períodos de oração no monte das Oliveiras, em Betânia, caminhava até a casa de Lázaro, onde pernoitava (Mt 21.17). Bem cedo, quando o povo chegava ao templo para ouvi-lo, Ele já estava lá.
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Capítulo 22
1 A palavra "Páscoa" era usada em dois sentidos: A refeição específica que se iniciava ao pôr-do-sol, no dia 14 do primeiro mês do ano judaico (Lv 23.4,5), conhecido como nisã, e que corresponde aos meses de março e abril (Lv 23.4,5), e a semana que se seguia à refeição da Páscoa (Ez 45.21), conhecida também como a Festa dos Pães (asmos), ou Festa dos Pães (sem fermento), semana na qual a Lei proibia o uso de fermento (Êx 12.15-20; 13.3-7). Na época do NT, essa celebração nacional, religiosa e política, com uma semana de duração, era reconhecida por ambos os nomes.
2 Desde sua derrota, quando tentou a Jesus de várias e poderosas formas (4.1), Satanás permaneceu sempre na defensiva, influenciando pessoas, circunstâncias e elementos da natureza para atacar o Senhor. Agora, aproveitando a permissão divina (v.31) e a falta de fé sincera de Judas, bem como sua avareza, inveja e revolta exacerbadas, volta à ofensiva. Apenas nesta passagem e durante a última ceia (Jo 13.27) essa expressão é usada no original grego.
3
Até esse momento não houve qualquer participação romana. Os guardas eram todos judeus, selecionados especialmente entre os levitas e a serviço do Sinédrio, formado pelos principais sacerdotes (chefes dos sacerdotes), escribas (mestres da lei) e os anciãos (líderes do povo).
4 A essa altura, todo o plano para assassinar Jesus estava tramado e em andamento. O maior receio dos inimigos de Cristo era quanto a uma possível revolta das multidões que amavam Jesus e já o aclamavam como rei dos judeus. A grande oportunidade seria durante a celebração da Páscoa, quando as ruas e estradas estariam desertas.
5 Conforme a lei e a tradição, o cordeiro pascal deveria ser sacrificado no dia 14 de nisã, entre 14h30 e 17h30, no átrio dos sacerdotes. Era quinta-feira da semana da Paixão.
6 Preparar a Páscoa consistia em matar e assar o cordeiro conforme todas as instruções ritualísticas da lei e providenciar pão sem fermento (asmo), ervas amargas e vinho.
7 Carregar água em potes era um serviço típico das mulheres, por isso um homem realizando esse trabalho seria fácil de ser notado. Jesus precisava tomar todo cuidado para não ser capturado antes da ceia, momento tão significativo, o qual tanto desejou partilhar com seus discípulos. Judas não devia ter conhecimento prévio do local da celebração. Entretanto, a maneira como Jesus pede que os discípulos se apresentem ao dono da casa indica que além de conhecido, aquele homem era um seguidor de Jesus. Vários estudiosos acreditam que essa casa pertencia aos pais de Marcos (At 12.12).
8 As profecias do Senhor sempre se cumprem cabalmente (19.32).
9
O evangelho segundo João (13.26-30) deixa claro que Judas já havia se retirado do cenáculo antes de Jesus haver compartilhado o pão e o cálice da Ceia do Senhor, mas Lucas não se preocupa em mostrar quando Judas se ausentou do grupo dos discípulos para ir cumprir sua traição. Jesus ansiava por comemorar essa Páscoa em comunhão com seus amados discípulos, pois esta seria sua última oportunidade antes de ser sacrificado como o perfeito "Cordeiro pascal" (1Co 5.7) em resgate de todos cristãos sinceros. Contudo, todos aqueles que durante todas as eras, por causa da fé que abraçaram, participaram desse memorial, também estarão com Cristo nas grandes "bodas" messiânicas do futuro (Ap 19.9). A Ceia, portanto, é a Páscoa cristã, e o antegozo da futura festa messiânica, quando a noiva (a Igreja verdadeira) se unirá eternamente ao Noivo (Cristo – Ap 19.6).
10 Três grandes cálices de vinho foram tomados durante a Páscoa (a tradição judaica recomendava quatro cálices): dois antes de ser servido o cordeiro, e o terceiro depois, quando Jesus explicou os novos significados do pão e do vinho instituindo a Ceia como memorial a ser guardado por todos os cristãos até o seu glorioso retorno.
11 Assim como o ano judaico começava com a Páscoa, que era uma constante lembrança e proclamação de como Deus redimiu Israel de séculos de escravidão gentílica (egípcia), da mesma forma, os cristãos fiéis deveriam observar as ordenanças de Jesus e guardar a cerimônia da Ceia do Senhor, celebrando a libertação dos crentes do jugo do pecado e da morte eterna mediante a obra expiatória de Jesus Cristo na cruz (1Co 1.9; 5.7; 16.22; Cl 1.13).
12 Deus está no controle do Universo, da história e do indivíduo. Suas profecias são todas infalíveis e anunciam prudência aos sábios e perdição aos arrogantes. Deus em Cristo tem um plano de redenção que jamais enfrentará surpresas ou reveses intransponíveis. Jesus desejava que as pessoas o tivessem compreendido melhor e obedecido suas orientações, mas sabia que apenas alguns o seguiriam até o fim ao acreditar e receber o seu sacrifício oferecido por toda a humanidade (v.37; 24.25).
13 Já que haveria um traidor no grupo, e que o líder estava prestes a ser preso e morto, os demais quiseram aproveitar o momento para definir quem era o mais importante para continuar a "obra revolucionária" do mestre. Os discípulos ainda não estavam convertidos e não entendiam a amplitude da obra de Jesus Cristo. O termo "discussão" no original grego é "contenda". Os governantes da Síria, Egito e Roma (três dominadores clássicos de Israel) se autoproclamavam "benfeitores" do povo, ainda que na maioria das vezes isso não passasse de propaganda política enganosa, e servisse apenas para alimentar o ego insaciável dos déspotas. Jesus, entretanto, convoca seus maiores e melhores discípulos para que sejam bons servos e cooperem com todos os demais em amor e humildade. Infelizmente, muitas vezes, o único recurso de Deus para arrancar a arrogância e o orgulho do coração humano é permitir que Satanás o "peneire" (v.31). Pedro e alguns dos discípulos precisaram passar fortemente por essa provação. A grandeza do verdadeiro discípulo de Cristo está na sua humilde dedicação aos outros (9.46). A palavra "servir" no original grego é: diakonõn, e significa: "servir às mesas" (At 6.2). Servir é apascentar os famintos espirituais (Jo 21.15-17).
14 Muitas tribulações, entre as quais: Tentações (4.13); adversidades (9.58) e rejeição (Jo 1.11). Algumas versões usam aqui a palavra "tentações", no entanto, a expressão no grego original é peirasmois, que significa "tribulações" ou "provações" (Tg 1.2,12), as quais serão compartilhadas por todos os discípulos de Cristo até sua volta gloriosa (Cl 1.24).
15 O contexto desta passagem demonstra que Jesus está se referindo à forma futura do reino (4.43; Mt 3.2). Da mesma maneira que os discípulos compartilharam das provações do Senhor, assim também compartilharão do seu reinado (2Tm 2.12), governando (julgando ou liderando) as doze tribos de Israel (Jz 2.16 e Mt 19.28).
16
Jesus se refere ao cantar do galo para sinalizar que sua profecia em relação à atitude covarde de Pedro (que até então tinha uma auto-estima por demais elevada) aconteceria antes que aquela noite terminasse.
17 Os discípulos de Cristo precisariam estar atentos às épocas e aos tempos difíceis. De agora em diante não poderiam mais contar com a bênção da hospitalidade onde quer que fossem. A grande oposição e perseguição futura exigiria que eles estivessem preparados para pagar suas despesas de ministério. Jesus se refere à espada como mais uma figura de linguagem, a fim de alertá-los quanto aos tempos perigosos que já estavam chegando. Assim como Paulo ao apelar a César (At 25.11) como portador de espada (Rm 13.4).
18 Esse trecho da Bíblia já gerou muita polêmica. Em 1302 d.C. o papa Bonifácio VII assinou um documento (bula papal), chamado em latim: Unam Sanctum, onde afirmava o direito divino da Igreja de exercer plenamente todos os poderes (espiritual e material, civil e militar), interpretando literalmente essa palavra de Cristo. A separação do Mestre trouxe ao mundo, e especialmente aos discípulos, ainda mais hostilidade. Entretanto, Jesus não está recomendando a compra de espadas (v.36; Mt 5.9,22,38), mas assinalando sua crucificação e as sanguinárias perseguições que viriam em breve. As mais eficazes armas do cristão são: o poder espiritual (6.10) e a oração (v.40). Quando os discípulos correm para mostrar-lhe as duas espadas que possuíam, Jesus demonstra que elas poderão ser necessárias, mas não decisivas para vencer no seu reino, e encerra o assunto (v.51).
19 O local exato no monte das Oliveiras (Jo 18.2) é descrito, de forma mais judaica, por Mateus como Getsêmani (Mt 26.36), e João o indica, mais teologicamente, como um olival (Jo 18.1). De qualquer maneira, tratava-se de um grande jardim, que ficava localizado na encosta inferior do monte das Oliveiras.
20
O objetivo de Satanás e seus demônios em relação aos cristãos é atingi-los da mesma maneira que o fez com Judas. Suas armas vão das promessas de riquezas, sucesso e poder às terríveis provas e perseguições. Nesses momentos todas as fraquezas humanas são alvos de seus ardis (ambição, inveja, arrogância, depressão, revolta, indolência, medo, dor, etc). É preciso orar e desenvolver uma fé inabalável no Senhor (Rm 8.35-37).
21
Lucas destaca a forma adotada por Jesus para orar, pois o tradicional, para os judeus era a oração em pé. A oração de joelhos expressava total submissão, adoração e insistência humilde (18.11).
22 Jesus sentiu de tal maneira as emoções humanas que teve uma crise aguda de hematidrose, que é a mistura de sangue ao suor, nos casos de extrema angústia e severas alterações emocionais.
23 O servo do sumo sacerdote chamava-se Malco e foi Pedro quem lhe arrancou a orelha direita quando tentou matá-lo com um golpe de espada (Jo 18.10). Jesus imediatamente restabeleceu a orelha daquele homem. Jesus não era um mero chefe de uma das muitas facções revolucionárias que havia em Jerusalém e evitou que qualquer acusação verdadeira neste sentido fosse alegada em seu inquérito no alto tribunal religioso e político do judaísmo.
24 Jesus foi submetido a dois inquéritos preliminares nas casas de Anás (Jo 18.19-23) e de Caifás, o sumo sacerdote (v.54; Jo 11.49), e finalmente, depois do amanhecer (para ser legal, conforme a tradição judaica), diante do Sinédrio (as mais altas autoridades religiosas e políticas do judaísmo na época). Entretanto, este tribunal não tinha poderes para aplicar a pena de morte sem autorização expressa do procurador romano em exercício (Jo 18.31).
25
Tendenciosamente o Sinédrio acusa Jesus de se autoproclamar o Messias (o Libertador). Essa era a única acusação formal que poderia levar Pilatos a condenar Jesus à pena de morte. Admitir que era rei implicaria que Cristo estava em rebelião contra o Estado romano (23.2). A assembléia dos sacerdotes e mestres judaicos não estava à procura da verdade, apenas desejava arrancar de Jesus uma confissão condenatória que satisfizesse os líderes político-religiosos dos judeus. Para os verdadeiros interessados Jesus podia revelar-se por meio das muitas profecias messiânicas a seu respeito (24.44; Mc 14.62-64).
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Capítulo 23
1 Todo o conselho (o Sinédrio ou toda a assembléia) é o mesmo grupo dos principais líderes político-religiosos dos judeus que já haviam se reunido ao raiar do dia (22.66; Mt 26.59; 27.1,2). Pilatos era governador romano e tinha seu principal quartel-general em Cesaréia, mas ficava em Jerusalém durante as comemorações anuais da Páscoa. Pois Roma tinha receio de que uma possível revolução pudesse ocorrer por ocasião da mais importante celebração da liberdade do povo judaico (Mc 15.1).
2 Multidões seguiam a Jesus, mas ele as ensinava sobre o Reino de Deus. Jesus se apresentava como o Messias prometido, o Filho de Deus, mas não como um político revolucionário, do tipo que sempre surgia em Jerusalém, especialmente nas celebrações da Páscoa. Pilatos percebeu que se Jesus fosse quem os líderes judeus estavam alegando, jamais o denunciariam, pois eram os mais interessados num motim do povo contra Roma. Jesus afirma ser rei, mas explica a Pilatos que seu Reino não é deste mundo (Jo 18.33-38). Historiadores afirmam que Pilatos ficou extremamente impressionado com o carisma e a "Imago Dei" (imagem de Deus, divindade) que a pessoa de Jesus refletia.
3 Pilatos estava acuado. Se condenasse a Jesus, perderia sua dignidade e sua consciência jamais o perdoaria. Caso não o fizesse, os líderes judeus poderiam levar o fato ao desconfiado imperador Tibério e ele se arriscaria a perder a posição e talvez a própria vida. Ao notar que Jesus era natural da Galiléia, mandou o caso para Herodes (com quem tinha rixas), pois seu quartel-general ficava em Tiberíades, região do mar da Galiléia, e viera a Jerusalém pelo mesmo motivo de Pilatos.
4
Herodes (Antipas) era um homem supersticioso e atormentado. Os apelos de João Batista ao seu arrependimento ainda ecoavam em sua mente perturbada pelo remorso (3.19), e o faziam acreditar que Jesus poderia ser João reencarnado. Jesus, entretanto, nada mais tinha a acrescentar.
5
Essa capa de aparência luxuosa, era na verdade, um velho manto militar, cuja cor púrpura era sinal de realeza. Marcos acrescenta que forçaram uma coroa de espinhos venenosos sobre a cabeça do Senhor (Mc 15.17), tudo com a finalidade de menosprezar sua pessoa e real majestade (Mt 27.28).
6 Alguns manuscritos de Mateus trazem a curiosa informação que o primeiro nome de Barrabás (em aramaico: "filho de Abba"), era também Jesus (Mt 27.16). Esse fato coopera para ilustrar a morte vicária de Cristo. O Jesus, homem incrédulo e mundano, é aceito e beneficiado pela justiça dos homens. Enquanto isso, Jesus, o Cristo, Filho de Deus, homem justo e abençoador, morre inocente em seu lugar (Mt 27.15-20; Mc 15.6-1; Jo 18.39-40).
7 Simão era natural da cidade de Cirene, localizada na Líbia, a oeste do Egito e na costa norte da África, foi pai de Alexandre e Rufo (Mc 15.21 de acordo com Rm 16.13). Houve uma sinagoga de cirineus em Jerusalém (At 6.9; 11.20). Os romanos obrigavam os condenados à crucificação a carregar nas costas a parte horizontal da cruz – uma viga de madeira maciça chamada de "antena" ou "trave" – até o lugar do suplício final.
8 Jesus aproveita suas últimas forças físicas para avisar aos seus discípulos em Jerusalém sobre o terrível Dia da Vingança, o qual chegaria por meio da invasão romana cerca de 40 anos mais tarde e que culminaria com a destruição total do templo e a chacina de todas as pessoas que permaneceram na cidade.
9
Conhecendo o coração das mães, Jesus as adverte de que melhor seria não ter filhos, a vê-los padecer e serem mortos das maneiras mais cruéis e imagináveis (1Co 7.25-35 com Jr 16.1-4), como de fato ocorreu no ano 70 d.C. O horror foi de tal ordem que as pessoas pediam para morrer sem passar pelas torturas e atrocidades impingidas pelos exércitos romanos ensandecidos (Os 10.8; Ap 6.16).
10 Jesus cita um velho provérbio popular para explicar que se o desespero toma conta das pessoas quando a boa vontade do Senhor ainda está viçosa ("árvore verde"), como será no Dia do Julgamento, quando o Senhor "secar" sua paciência e misericórdia para com Israel e toda a incredulidade?
11
A Caveira, como consta dos originais em grego, era o nome de um monte com o formato de um grande crânio humano. Algumas versões fizeram uma adaptação do nome em latim: "Calvária" e o traduziram por "Calvário", um termo mais elegante, porém impreciso (Mc 15.22-24).
12 Quaisquer bens que uma pessoa condenada à pena de morte levasse consigo eram arrancados dela pelos algozes. Sem saber (Jo 19.23-24), os soldados estavam cumprindo as profecias do milenar Salmo 22. Da mesma maneira cumpria-se Is 53.12. Jesus revela o coração misericordioso do Pai diante do ser humano pecador e infiel, o qual ele ama infinitamente (Jo 3.16) e o perdoará enquanto estiver agindo sem o conhecimento do seu Evangelho (At 3.17; 17.30).
13
Os quatro evangelistas mencionam a inscrição condenatória afixada no alto da cruz, acima da cabeça de Jesus. Entretanto é João (Jo 19.20), e não Lucas, quem afirma – nos melhores originais em grego – que a inscrição estava nas três principais línguas do mundo na época: hebraico, latim e grego. Ao agir ironicamente contra os líderes judaicos, Pilatos, sem perceber, anunciava ao mundo que ali estava o Rei dos judeus (Mc 15.26).
14 Na Septuaginta (a tradução grega do AT) a palavra "paraíso" significava um "jardim imenso e perfeito" (Gn 2.8-10; Ne 2.8). No NT, essa palavra é usada somente aqui, em 2Co 12.4 e Ap 2.7. Refere-se ao lugar de plena felicidade e repouso (o perfeito shabbãth), entre a morte e a ressurreição (Lc 16.22; 2Co 12.2).
15
Jesus havia sido colocado na cruz na "hora terceira", ou seja, às nove horas (Mc 15.25). Do meio-dia às três da tarde ocorreu um fenômeno assustador e escuridão espessa, como um eclipse total do sol, que foi observado sobre toda a região da Palestina. A "hora sexta" citada em Jo 19.14 tem a ver com o sistema romano de designar as horas (6 horas), quando Pilatos comunicou sua decisão.
16 No templo, o Lugar Santo era separado do Santo dos Santos (onde o Espírito de Deus estava presente para receber a adoração e as ofertas do seu povo), por uma longa cortina de tecido. No momento da morte de Jesus, o Espírito de Deus se retira do templo. A cortina (véu) é partida ao meio, de cima a baixo. Esse ato simbólico de Deus indicou que Seu Espírito não estaria mais no templo. Daquele momento em diante, o acesso a Ele e à vida eterna, seria exclusivamente pela fé no sacrifício vicário (sangue) de Jesus Cristo, Seu Filho (Hb 9.3,8; 10.19-22). O tabernáculo e a Casa de Deus (templo) deixaram de ser os lugares da habitação de Deus, que passou a viver no espírito de cada ser humano que sinceramente crê e segue a Jesus (Jo 4.21).
17 Mateus e Marcos apresentam o centurião romano, responsável geral pela execução de Jesus, constatando em voz alta que: "este homem era inegavelmente o Filho de Deus". Lucas observa que ele bradou literalmente: "este homem era o Justo!" Para muitos estudiosos, "Justo" e "Filho de Deus", neste contexto, teriam sido termos similares. Os pilares do império romano começavam a demonstrar seus primeiros sinais de rendição ao Espírito do Senhor. Séculos mais tarde toda Roma – de uma forma ou de outra – seria cristã.
18 Um profundo espírito de arrependimento arrebatou a todos os presentes indistintamente. Entretanto, os judeus sentiram todo o peso do remorso e maior pavor em relação ao futuro. Deixaram o local da crucificação arrasados e, conforme a tradição judaica, batiam nos próprios peitos como sinal de profunda angústia e desolamento. Esse estado de alma preparou milhares de pessoas para a grande demonstração de arrependimento no dia do Pentecostes, marcando o início da Igreja de Jesus Cristo (At 2.37-41). A oração final de Jesus havia sido respondida (v.34).
19
Não era permitido às mulheres se aproximarem dos atos de crucificação. Entretanto, a mãe de Jesus (Jo 19.25-27) e várias outras discípulas, que o acompanhavam desde o início do ministério na Galiléia, juntamente com muitos discípulos, não abandonaram Jesus na cruz (Mt 27.55,56; Mc 15.40,41; Jo 19.25 conforme Lc 24.10).
20
José de Arimatéia era um verdadeiro discípulo de Jesus. Entretanto, como Nicodemos (Jo 19.29), agia em secreto, "aguardando o Reino de Deus", mesmo assim – manifestou-se contrário à decisão do Sinédrio – e arriscou sua posição e a própria vida ao tomar a iniciativa de solicitar uma audiência urgente com Pilatos para pedir que lhe entregasse o corpo de Jesus para os devidos preparativos dos funerais, com todas as honras e cerimoniais judaicos. Esses rituais eram proibidos pelo Sinédrio, no caso de criminosos executados. E assim, cumpriu-se mais uma profecia acerca de Jesus, o Cristo (Is 53.9).
21 O "Dia da Preparação" para os judeus é a sexta-feira, dia em que todo o trabalho, a alimentação e os preparativos para os cerimoniais do sábado são finalizados (essa prática ritual é rigorosamente guardada até nossos dias entre os judeus religiosos).
22 As discípulas do Senhor o acompanharam até a conclusão do seu sepultamento. Mais tarde, esse testemunho seria de grande valia para refutar as alegações, especialmente por parte dos gnósticos docetas (filósofos que negavam a morte de Cristo), e de vários incrédulos, que alegavam que elas haviam ido para o túmulo errado, ou que os discípulos haviam roubado e escondido o corpo de Jesus com a finalidade de propagar uma idéia mística da ressurreição.
23 Apesar da forte oposição dos líderes do Sinédrio, que tentaram de todas as maneiras influenciar Pilatos, quanto ao martírio e sepultamento de Cristo (Jo 19.21-22), o fato é que Jesus teve um funeral digno de príncipe. Ocupou uma rica sepultura, nunca antes usada, construída na rocha por José de Arimatéia. Muitos metros de tecido, e grande quantidade de custosas especiarias aromáticas foram usados no preparo do seu corpo para o sepultamento. Cerca de 34 quilos de mirra e aloés foram consumidos apenas naquela primeira tarde (Jo 19.39). E muito mais foi comprado, para ungir seu corpo e o sepulcro, logo na aurora do primeiro dia da semana, quando as discípulas do Senhor voltassem para lá.
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Capítulo 24
1
Conforme o horário judaico, o primeiro dia da semana (domingo) começava logo após o pôr-do-sol do sábado. As mulheres puderam então comprar os perfumes e especiarias e preparar os ungüentos e bálsamos que seriam usados na conclusão dos preparativos do corpo de Jesus e do túmulo para o sepultamento conforme a tradição judaica (Mc 16.1). As mulheres saíram bem cedo na manhã do domingo, quando ainda estava escuro (Jo 20.1), e chegaram ao túmulo sob os primeiros raios da aurora (Mt 28.1; Mc 16.2).
2
Normalmente se fechavam os túmulos com uma grande pedra para evitar que vândalos e animais pudessem perturbar os corpos ali sepultados. Entretanto, as autoridades romanas haviam lacrado o túmulo, onde depositaram o corpo de Jesus com o selo de Roma e um grupo de soldados foi destacado para vigiar a área do sepulcro (Mt 27.62-66).
3 Os anjos tinham aparência humana, mas suas vestes irradiavam uma luz intensa como a do dia claro. Fenômeno semelhante ocorreu no evento da transfiguração, como um prenúncio da ressurreição (9.29,32; At 1.10; 10.30). Mateus e Marcos descrevem apenas um anjo (Mt 28.2; Mc 16.5), mas era comum aos autores dos evangelhos dar ênfase às pessoas que tomavam a palavra nos eventos narrados. Além disso, em certas ocasiões, cada um dos evangelistas teve sua atenção voltada para um ou outro aspecto específico, o que evidencia a total independência dos relatos.
4 Os anjos procuram encorajar a fé das mulheres. O Senhor havia predito todos esses acontecimentos aos seus discípulos e discípulas muitas vezes e de diversas maneiras (9.22). Agora, mais do que nunca, era importante crer. Elas estavam vendo as ataduras de linho e o lenço (em grego: soudarion) que envolvera a cabeça do Senhor, tudo arrumado de um jeito que ser humano algum sequer teria forças para romper aquelas amarras fúnebres, mesmo assim não conseguiam, de imediato, acreditar plenamente na ressurreição de Jesus (Jo 20.5-8).
5 Depois do ato de traição de Judas, a expressão "os Onze" passou a ser usada em referência ao grupo dos apóstolos (At 1.26; 2.14). Judas já estava morto quando o Cristo ressurreto se encontrou com seus apóstolos pela primeira vez, no entanto, o grupo continuava, em muitas ocasiões, a ser chamado de "os Doze" (Jo 20.24). Os "demais" ou "outros" se refere aos muitos discípulos e discípulas que vinham seguindo o Senhor desde a Galiléia.
6 Maria Madalena é citada em primeiro lugar na maioria das listas das discípulas do Senhor (Mt 27.56; Mc 15.40 conforme Jo 19.25). Foi também a primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado (Jo 20.13-18). Joana (8.3) é mencionada apenas por Lucas nesta ocasião, e Marcos é o único que acrescenta Salomé (Mc 16.1). Maria, mãe de Tiago (16.1), é "a outra Maria" de Mt 28.1. A ausência de Maria, mãe do Senhor, pode ser explicada pelo fato de que ela, mais que todos, confiava nas palavras do seu filho e aguardava com João – o discípulo amado – o cumprimento das profecias e da ressurreição de Jesus (Jo 19.27).
7 Os apóstolos e discípulos estavam longe de acreditar no evento da ressurreição com base no testemunho emocionalmente descontrolado daquelas discípulas (Jo 20.25). A expressão leros nos originais gregos, traduzida aqui por "delírio", e, em algumas versões por "loucura", significa literalmente "tolice" ou "esquisitice".
8 João nos informa que ele também estava com Pedro nessa emocionante corrida até o sepulcro (Jo 20.3-9).
9 O domingo da ressurreição simboliza a era da nova criação. A época da Graça e o início do final dos tempos com a iminente volta de Cristo em glória. Emaús era uma pequena vila, hoje desconhecida, mas seu nome significa "lugar das águas termais" ou "águas que curam", e para lá caminhavam desconsolados dois discípulos do Senhor: Cléopas (v.18) e, segundo vários estudiosos, o próprio Lucas. A medida de distância romana "sessenta estádios", corresponde a cerca de onze quilômetros.
10
Tinham certeza de que era um profeta de Deus, por suas palavras poderosas e milagres indiscutíveis (At 7.22). Entretanto, eles esperavam que ele também fosse o Messias (Dt 18.15,18) e libertasse o povo de Israel da opressão romana (1.68; 2.38; 21.28,31 conforme Tt 2.14; 1Pe 1.18). E por isso estavam muito decepcionados.
11 Assim como a maioria das pessoas em nossos dias, os discípulos não conseguiram acreditar nas evidências do túmulo vazio, nem na declaração explícita dos anjos, nem no testemunho respeitável das discípulas que acompanharam Jesus desde a Galiléia; nada convence, a não ser a própria pessoa de Cristo (v.30). Isso significa que ninguém se convencerá da ressurreição e do senhorio de Cristo, a menos que o Espírito Santo venha e toque a cada pessoa em sua individualidade com o poder da fé (At 2.38; Rm 6.23; Ef 2.8).
12
O vocábulo grego edei, conforme os originais bíblicos, tem o sentido de "era necessário" ou "imperioso". O que significa que tudo quanto se passou com Jesus Cristo fora conseqüência do propósito divino e da Palavra de Deus, que estão acima de toda a justiça e compreensão humanas. A esperança messiânica concentra seu amor e atenção sobre as glórias eternas, sem se deixar abater pela dor da Paixão (9.43; Fp 2.5-11).
13 Tudo indica que se Jesus não tivesse sido convidado a entrar, teria continuado seu caminho. O Senhor jamais força sua entrada no coração humano. Ele se apresenta e aguarda ansioso o convite para habitar em nosso espírito e nos abençoar com um novo nascimento e uma nova vida (Ap 3.20; Jo 10.9).
14 Essa passagem lembra a Ceia, onde o "partir do pão" é termo comum para a Ceia (At 2.42) e simboliza o fato de que sem Jesus Cristo à cabeça da mesa não pode haver verdadeira comunhão (1Co 10.16).
15 Os "olhos impedidos" de antes (v.16) recebem o milagre da visão espiritual e são "abertos". Almas e corações "tolos" e "lentos" (v.25) passam a "queimar" (v.32) com amor e disposição urgente para proclamar a Salvação de Cristo ao mundo.
16
E Jesus, apesar de tudo, fez questão de aparecer a Simão (Jo 21.15-19), o primeiro discípulo da lista de aparecimentos de 1Co 15.5.
17 Temos base bíblica para afirmar que o corpo ressurreto tem a aparência do corpo anterior, todavia sua substância geral é de um estado especial e tênue. Jesus apareceu entre eles, por trás das espessas portas trancadas (Jo 20.19, 26), evidenciando que seu corpo era de uma ordem diferente (Mc 16.12). As marcas dos cravos e da lança podiam ser vistas no corpo de Cristo (Jo 20.27), pois era exatamente o mesmo corpo do Senhor antes da morte, composto de carne e ossos (v.39). Expressões como: "Tocai-me" ou "Apalpai-me", colocam por terra os argumentos gnósticos (1Jo 1.1). Essas são indicações que nos fazem crer que sem dúvida reconheceremos perfeitamente nossos amados na ressurreição (1Co 15.44). A tradicional saudação hebraica, com sotaque galileu: Shãlôm, que traz o sentido geral de "paz com saúde e conforto", foi recebida com surpresa e alegria pelos discípulos e agora adquire o sentido completo e messiânico de: Graça (Rm 1.7), Vida (Rm 8.6) e Justiça (Rm 14.17).
18 O cânon hebraico do AT é formado de três grandes divisões, sendo que o livro dos Salmos era o primeiro livro da terceira sessão, chamada de "Escritos", o que revela que Jesus Cristo, o Messias, fora predito em todo o AT.
19
O AT retrata o Messias como um profeta que sofreria (Sl 22; Is 53), mas ressuscitaria no terceiro dia (Sl 16.9-11; Is 53.10,11 conforme Jo 1.17 e Mt 12.40). A predição da morte e da ressurreição de Jesus Cristo está conectada à essência da resposta do ser humano (o arrependimento – At 5.31; 10.43; 13.38; 26.18) e do seu benefício resultante (o perdão – Is 49.6; At 13.47; 26.22,23), a começar de Jerusalém (At 1.8).
20 O poder para cumprir a missão de pregar a todas as nações (v.47) é uma referência à promessa do Espírito Santo, que é a própria pessoa do Cristo, habitando e agindo na vida do cristão fiel, e que se cumpriria a partir do relato de At 2.4 (Jl 2.28,29 conforme Mt 28.18-20 e At 1.8).
21
Jesus acompanhou seus discípulos até uma aldeia próxima a Betânia, no monte das Oliveiras (19.29; Mt 21.17).
22 Bem diferente dos seus desaparecimentos anteriores (4.30; 24.3; Jo 8.59), esse "até logo" do Senhor se dá à vista de todos, no jardim das Oliveiras, de forma saudosa e tranqüila, subindo ao céu numa nuvem (At 1.9). Não é ainda a exaltação do Senhor (Jo 20.17), mas o fim de um tempo histórico. Jesus não mais aparecerá fisicamente ao mundo até seu glorioso retorno (At 1.11).
23 A terrível tristeza com o afastamento de Jesus na cruz e no sepulcro é agora perfeitamente substituída pelo júbilo glorioso da presença do Espírito do Senhor nos corações de todos os discípulos, produzindo alegria e poder (At 2.46; 5.41).
24 E naqueles dias, imediatamente após a ascensão de Jesus Cristo, os cristãos (expressão com a qual as pessoas se referiam aos seguidores do Senhor e que significa em grego: "pequenos cristos" ou "crentes"), costumavam reunir-se diariamente no templo (At 2.46; 3.1; 5.21,42), no qual muitas salas ficavam à disposição para meditação, oração e estudo das Escrituras (2.37).